O texto, produzido pelo pesquisador Rafael Linhares, aborda as mudanças decorrentes do avanço das tecnologias de comunicação digital e seu impacto na política. Destaca-se o caso da campanha de Barack Obama em 2008 como exemplo do uso de redes sociais. No contexto brasileiro, há uma intensa utilização das redes sociais por parte dos políticos. A análise exploratória realizada pelos deputados federais paranaenses eleitos em 2022 revelou que a maioria já possuía carreira política estabelecida. Notavelmente, os “outsiders” obtiveram uma pontuação mais alta no ranking de usuários intensivos de mídias digitais.

Diversas mudanças decorrentes do avanço das tecnologias de comunicação digital têm sido amplamente discutidas e analisadas por diversas áreas científicas, fornecendo importantes conhecimentos sobre o impacto dessas ferramentas na sociedade. Castells (1999) afirma que, a partir dos anos 1980 e muito motivado pelo processo de globalização, ocorre uma disseminação dessas novas ferramentas digitais, acarretando transformações significativas na maneira como as sociedades estruturam sua economia, política e cultura.

Um dos exemplos mais proeminentes do uso de ferramentas digitais por atores políticos é a campanha do então candidato à presidência dos Estados Unidos em 2008 Barack Obama. Essa disputa eleitoral é marcada pelo intenso uso de redes sociais, como o Facebook e o Youtube, além de ferramentas mais tradicionais como os websites em estratégias inovadoras de comunicação digital (GOMES; FERNANDES; REIS; SILVA, 2009).

Nesse contexto de desenvolvimento de novas táticas de comunicação digital em diferentes nações, diversos autores buscam entender como a classe política passa a adaptar-se a esse ambiente em seus respectivos países. Analisando o caso brasileiro, Braga e Carlomagno (2018) argumentam que uma nova característica dos pleitos eleitorais é a intensa utilização das redes sociais e ferramentas de comunicação digital como o Facebook, Instagram, Twitter e Youtube onde os atores políticos passam a implementar estratégias de e-campanha durante a disputa e no decorrer de seus mandatos.

Nesse sentido, o objetivo do presente comentário é realizar uma análise exploratória a fim de identificar a existência de relação entre quantidade de seguidores nas redes sociais (Facebook, Instagram, Twitter e Youtube) e carreira política dos deputados federais paranaenses eleitos em 2022. 

Inicialmente iremos apresentar nosso universo empírico da análise, composto pelos 30 deputados federais paranaenses eleitos para a 57º legislatura (2023-2027) com o recorte sobre os parlamentares em exercício até o dia 5 de maio de 2023.

Uma das características dos novos atores políticos é o uso intensivo de redes sociais para angariar apoio digital durante a campanha e, tendo como objetivo principal, a tentativa de transformar isso em capital político para elegerem-se a cargos eletivos. Nesse sentido, classificamos as tipologias de carreira política da seguinte forma:

i) Os outsiders: são aqueles deputados que não exerceram nenhum cargo eletivo antes do ano de 2022;

ii) Os estabelecidos: são os parlamentares que já exerceram especificamente mandatos de deputado federal anteriormente;

iii) Os rebeldes: são os parlamentares que já possuíram carreira política eletiva prévia, em outros níveis de representação, mas nunca haviam exercido mandatos de deputado federal antes de 2022.

Assim, identificamos os deputados federais que possuem perfis com grandes quantidades de seguidores, os outliers superiores nessas redes, criamos um ranking com um intervalo de 0 a 4, onde cada ponto representa uma rede onde o parlamentar é outlier. O resultado de ambas as classificações podem ser conferidas na tabela abaixo: 

Tabela1 – Tipologia de carreira e heavy users de mídias digitais 

Fonte: o autor (2023)

Quando observamos os dados presentes na tabela, é possível identificar primeiramente uma maior quantidade de parlamentares estabelecidos dentro da arena política. Ou seja, a maioria dos deputados federais paranaenses desta legislatura já possuíam carreira política eletiva prévia e, especificamente, em mandatos para o cargo de deputado federal. 

Essa constatação não é novidade na análise de outsiders no parlamento brasileiro: em trabalhos sobre as legislaturas anteriores, os parlamentares estabelecidos representavam mais de 50% dos deputados federais eleitos no período (WISSE; BRAGA; LINHARES, 2022). Além disso, outro dado interessante dado descritivo é a média de pontos no ranking dos usuários intensivos de mídias digitais onde, para essa legislatura, os outsiders aparecem à frente dos estabelecidos com uma média de 2.25 e 1.6 pontos respectivamente:  

Gráfico 1 – média de pontuação de no ranking de usuários intensivos de mídias digitais por tipologia de carreira política

Fonte: o autor (2023)

Para concluir, as informações demonstradas na presente análise nos permitem ter uma noção descritiva de como se caracterizam as carreiras parlamentares e de qual é a força, em certa medida, dos outsiders na política dentro do mundo digital.


REFERÊNCIAS:

BRAGA, S. S. CARLOMAGNO, M. C. Eleições como de costume? Uma análise longitudinal das mudanças provocadas nas campanhas eleitorais brasileiras pelas tecnologias digitais (1998- 2016). Revista Brasileira de Ciência Política, Brasília, n. 26, p 7-62, 2018.

CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. Paz e Terra, vol.1. São Paulo, 1999

GOMES, Wilson; FERNANDES, Breno; REIS, Lucas; SILVA, Tarcizio. “Politics 2.0″: acampanha online de Barack Obama em 2008. Revista de Sociologia Política, Curitiba, v. 17,n. 34, Oct. 2009.

WISSE, F; LINHARES, R; BRAGA, S. São os outliers, outsiders? Perfil dos deputados federais usuários intensivos de mídias digitais na legislatura 2019-2023. In: Adriano Nervo Codato; Gabryela Gabriel; Nilton Sainz; Maiane Bittencourt; Rodrigo da Silva. (Org.). A Profissão política: investigações sobre políticos profissionais no Brasil. 1ed.Curitiba: Massimo Editorial, 2022, v. 1, p. 108-144.