Embora importantes na disputa eleitoral, os partidos políticos pouco aparecem no discurso dos candidatos a deputado federal no HGPE de 2018.

Marina Michelis Fernandes e Amanda Gonçalves Menezes

Os desdobramentos mais recentes da política brasileira colocaram em xeque as peças institucionais do tabuleiro da democracia do país. Dados do Latinobarômetro, de 2018, mostram que apenas 6% da população brasileira diz acreditar nos partidos, o que coloca o país na penúltima colocação de um ranking com 18 países da América Latina. Apesar disso, assim como no jogo, as legendas partidárias são peças que se movem e são necessárias à disputa eleitoral. Sobretudo no Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE), os partidos políticos são pertinentes porque é a eles que a legislação brasileira se dirige. O tempo que cada partido ou coligação terá na televisão é proporcional ao tamanho da bancada no Legislativo, ficando a cargo das legendas decidir ordem, tempo de exposição e quais candidatos participarão dos programas. Diante disso, este texto se propõe a analisar como os partidos são citados na comunicação dos candidatos a deputado federal pelo Paraná nas eleições de 2018.

Para isso, foram analisados todos os programas (tarde e noite) do HGPE, utilizando a variável semântica “menção a partidos políticos” contida no livro de códigos do Grupo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP). Tal componente foi marcada nos casos em que os partidos eram nominalmente citados, ou seja, quando havia explicitação direta à determinada sigla na fala dos candidatos. Os geradores de caracteres (CGs) não são considerados para os fins aqui propostos, pois é uma regra formal do programa.  As datas de exibição dos programas compreenderam os meses de setembro a outubro de 2018.

De antemão, pode-se dizer que a frequência válida de menção a partidos corresponde a 5,2%, significando que de um total de 2016 casos de campanha, somente 104 entradas fizeram menção a algum partido da disputa eleitoral. A maioria, 94,8%   não faz uso do partido na comunicação eleitoral do HGPE. Isso demonstra que, apesar da importante função dos partidos na montagem estratégica dos seus programas, os dados indicam que outros aspectos se sobrepõem à imagem do partido na comunicação eleitoral. Mas desses 5,2%, que partidos aparecem? A seguir, o gráfico 1 ilustra a frequência de citações por partido.

Gráfico 1 – Frequência válida de partidos mencionados

Fonte: CPOP (2020).

Conforme se pode observar, quando há menções, estas se concentram majoritariamente em nome do Partido dos Trabalhadores (PT), com 3,2% das citações. Em segundo lugar temos o Novo, com 0,8%, seguido do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), com 0,5% de frequência. A soma de frequência de todos os outros partidos mencionados, como Democracia Cristã (DC), Movimento Democrático Brasileiro (MDB), Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Partido Pátria Livre (PPL), Partido Verde (PV) e Rede Sustentabilidade, representa 0,5%, número bastante inferior ao do PT. Tamanha diferença nos mostra que, de maneira geral, os partidos são pouco citados pelos candidatos paranaenses a deputado federal. No que diz respeito ao uso estratégico do partido pelos candidatos do PT, Braga e Pimentel (2011) argumentam que essa foi uma tendência também em eleições anteriores (em todos os níveis e cargos), pois construiu-se uma simbologia popular em torno do eleitorado, o que ajuda a compreender a centralidade da sigla.

Em conformidade com a literatura, a descrição de resultado dos dados demonstra algo que é naturalmente esperado em sistemas de lista aberta: em perspectiva de campanha personalizada,  existe uma centralidade na imagem do candidato, deixando o partido em segundo plano, conforme aponta o trabalho sobre a ‘definição de carreira de deputados federais no Brasil’ dos  autores Freitas e Costa (2019). A justificativa para isso é que coexistem muitos partidos em distritos de proporções assumidamente significativas, fator esse que combinado às regras específicas da disputa majoritária, catapultam uma maior competitividade, tanto dentro quanto fora das listas dos partidos ou das coligações. De fato, categorias como ‘apelo ao voto’, por exemplo, demarcam 40,7%, aparecendo em 820 casos. Portanto, poderíamos dizer que as lógicas internas da disputa eleitoral proporcional influenciam no uso estratégico de formação de imagem em campanha. Conforme afirmam Quadros e Costa (2017), o tempo de televisão no horário gratuito não é dividido igualmente entre os postulantes dos partidos e os candidatos procuram se diferenciar ao máximo dos concorrentes, inclusive em relação aos candidatos do próprio partido ou coligação.

Neste texto, analisamos a presença dos partidos no HGPE dos deputados federais pelo Paraná, mostrando que eles não foram protagonistas nos discursos de campanha. Para acrescentar novos desdobramentos é necessário testar novas categorias que verifiquem especificamente a imagem do candidato, já que nas campanhas eleitorais deste tipo não haveria o interesse por parte de alguns deputados em permanecer no cargo. Estes veem no executivo um futuro de carreira mais interessante, algo que dialoga com a cultura personalista da política brasileira (Freitas e Costa, 2019; Dias, 2013). Ademais, mesmo que os partidos políticos não tenham destaque como objetivos de campanha, eles podem ser relevantes até mesmo no incentivo de carreira de seus candidatos, pois atuam politicamente com maior influência na casa legislativa conforme o número de cadeiras conquistadas. Os cargos do executivo podem representar a ambição dos postulantes, mas estes dois poderes dependem reciprocamente um do outro.


Leia também:

Partido ainda importa? Observações sobre o HGPE de deputados estaduais em 2018


Referências

BRAGA, Maria do Socorro Sousa. PIMENTEL, Jairo. Os partidos políticos brasileiros realmente não importam? Opinião Pública, p. 271-303, 2011.

DIAS, Marcia R. Costa, Diarlison Lucas Silva da. Nas brumas do HGPE: a imagem partidária nas campanhas eleitorais brasileiras (1989 a 2010). Opinião Pública, v.19, p.198-219, 2013.

FREITAS, Vitor Eduardo Veras de Sandes. Partidos políticos importam na definição de carreiras políticas no Brasil? Política & Sociedade, v. 18, n. 42, p. 117-150, jan. 2019.

QUADROS, Doacir G., COSTA, Luiz D. Quem tem mais tempo no horário gratuito? Estratégia partidária, capital político e acesso ao HGPE nas eleições para deputado estadual no Paraná em 2014. Revista Compolítica, p. 121-152, 2017.