As pesquisadoras Júlia Frank De Moura, Maíra Orso e Naiara Sandi de A. Alcantara analisaram o uso das redes sociais por grupos políticos de direita. Eles observaram que políticos de direita compartilham principalmente links dentro do próprio Twitter, enquanto páginas impessoais de ativismo de direita retweetam conteúdos de políticos e blogueiros. Isso indica uma busca por autoafirmação e uma preferência por fontes internas à plataforma. O estudo destaca o uso do Twitter como meio de propagação de conteúdo e mobilização política por parte dos grupos de direita.
A literatura tem demonstrado que grupos localizados mais à direita no espectro político estão utilizando as plataformas digitais cada vez mais recorrentemente para se organizarem politicamente, especialmente a rede social Twitter (MASSUCHIN et al, 2021). No cenário institucional, grupos de direita têm se fortalecido nas últimas eleições. O ativismo conservador na esfera pública foi marcado por uma trajetória importante, até a chegada dos conservadores ao palco principal do executivo em 2019 (CUNHA, 2020). É alto o número de políticos de direita que produzem e compartilham informações diariamente por meio de redes sociais. Este é um espaço priorizado para distribuir conteúdo para a militância e levantar a atenção para determinados temas e aspectos da política (JÚNIOR et al, 2014).
Para compreender o tipo de conteúdo distribuído por políticos de direita no ambiente digital faz-se imperioso a realização de análise das fontes de informação usadas no Twitter, tendo como objeto os links compartilhados em contas de ocupantes de cargos eletivos e não eletivos, ativistas e páginas impessoais de ativismo de direita, e seus retweets. Parte-se da hipótese (H1) de que identificar fontes de informação vai além do fato de conhecer as relações entre mídias ou para onde as URLs apontam, pois neste caso os atores políticos que difundem, tais conteúdos funcionam como mediadores na difusão de informações e fazem parte da estruturação do debate e das conversações que se dão em ambientes digitais (LEMOS, 2020; LYCARIÃO, 2014; MORAES, ADGHIRNI, 2012; SILVA, MUNDIM, 2015).
Buscando a compreensão sobre as fontes de informação usadas por perfis de direita no Twitter durante o período eleitoral de 2022, no paper apresentado na Compolítica 2023 desenvolveu-se a parte empírica através da Análise de Conteúdo de tweets monitorados (no período eleitoral de 2022) de 10 páginas de direita. São elas: @Bolsoneas; @AlineSleutjes; @CLAUDIAFREITA25; @JaniceTavares; @EvertonSodario; @LuisPau78888694; @EuSouMBC; @MQEBrasil; @GutoZacariasMBL; e @KimKataguiri.
A extração dos dados foi realizada através da API (Application Programming Interface), uma interface do site que retorna dados públicos e que não viola as políticas de privacidade da plataforma. De 15 de agosto a 30 de outubro de 2022, foram coletados 3590 tweets por meio da ferramenta, o que demonstra alta atividade das contas. Mas, como o foco do texto é discutir a origem e as fontes dos conteúdos publicizados, selecionou-se apenas as postagens que faziam uso de links para a codificação que poderiam indicar diretamente outros conteúdos – internos ou externos ao Twitter, também como os retweets. Assim, delimitou-se a amostra em 1431 (39,86% do total).
Mapeados os conteúdos que faziam referência a URLs, estes foram sistematizados em um banco de dados e categorizados a partir da Análise de Conteúdo clássica. As variáveis utilizadas para codificação são referentes ao tipo de link e a origem do conteúdo do link. Para identificar o tipo de link – ou qual era a plataforma em que se direcionava a URL compartilhada – elencou-se os seguintes códigos: (1) Sites jornalísticos; (2) YouTube; (3) Sites institucionais; (4) Sites de políticos; (5) Sites de rede de notícias da alt-rigth; (6) Blogs; (7) Conteúdo do próprio Twitter; (8) Link para grupos/canais de Whatsapp/Telegram/Facebook; (9) Outros (forms, sites de vendas, etc); (10) Links para vendas/dicas de produtos/cursos/livros; (11) Mais de um link e (12) Não identificado.
Foram categorizados 1429 tweets após processo de limpeza dos dados. Destes, 134 tweets foram de páginas de ativistas de direita (9,4%), 511 de páginas de político de direita (35,8%) e 784 de páginas impessoais de ativistas de direita (54,9%). Neste primeiro momento já se percebe uma diferença quantitativa entre os três segmentos, predominando o número de postagem por páginas impessoais de ativismo de direita. Ou seja, as páginas de grupos nativos digitais, que não possuem a identidade de uma pessoa, mas sim o nome e formato de grupo, tais como a @MQEBrasil, tendem a publicar mais no período eleitoral, seguido dos próprios políticos e, por último, os cidadãos comuns ativistas de direita.
As 10 contas analisadas tendem a compartilhar mais da metade dos links vindos do próprio Twitter, isto é, de 720 dados codificados com URL, 484 (33,9%) são oriundos de outras contas da mesma plataforma. A tabela 1 demonstra a distribuição de forma crescente, entretanto, leva em conta também os 49,6% (N=709) de tweets sem links, que são os conteúdos advindos de RTs, portanto, nessa amostragem total, o percentual para onde as URLs direcionam é de 33,9%. Isso mostra que apesar da busca por outras fontes, elas acabam restritas à própria plataforma com conteúdos sucintos e que evidenciam – de alguma forma – a busca por levar aos seguidores textos diretos, com mensagens de fácil assimilação (RIBEIRO, MOREIRA DA SILVA, 2022), além de uma tendência às bolhas informativas enfatizadas pelas redes sociais (GOLDSTEIN, 2021; BÜLOW, DIAS, 2019; RODRIGUES et al, 2020).
Tabela 1 – Distribuição das plataformas para onde a URL direciona
Tipo/origem do link | Absolutos | % |
Blogs | 1 | 0% |
Outros (forms, sites de vendas, etc) | 1 | 0,1% |
Sites de políticos | 3 | 0,2% |
Link para grupos/canais de Whatsapp/Telegram/Facebook/Instagram | 8 | 0,6% |
Não identificado | 10 | 0,7% |
Sites de rede de notícias da alt-rigth | 13 | 0,9% |
Sites jornalísticos | 23 | 1,6% |
YouTube | 177 | 12,4% |
Conteúdo do próprio Twitter | 484 | 33,9% |
Não tem link | 709 | 49,6% |
Total Geral | 1429 | 100% |
Fonte: Autoras, 2023
A respeito da distribuição dos emissores, conforme tabela 2, vê-se que 492 (34,4%) dos tweets não eram retweets (sendo assim, obrigatoriamente continham URLs). Além disso, a maior parte dos retweets são originalmente de políticos de direita (9,9%) ou de blogueiros (3,2%); demonstrando uma tendência maior de páginas pessoais retweetarem informações de outras fontes, e páginas impessoais de publicarem seus próprios conteúdos e URLs.
Tabela 2- Distribuição das contas que possuem RT e suas origens
Origem da conta | Absolutos | % |
Instituições (Senado, STF, Polícia Militar, etc) | 1 | 0,1% |
Políticos de esquerda/centro | 1 | 0,1% |
Rede de imprensa alternativa (folhapolítica/GazetaBrasil) | 5 | 0,3% |
Imprensa | 6 | 0,4% |
Contas impessoais de ativismo de direita | 41 | 2,9% |
Blogueiros | 46 | 3,2% |
Políticos de direita | 141 | 9,9% |
Não tem RT | 492 | 34,4% |
Conta de cidadãos ativistas de direita | 696 | 48,7% |
Total Geral | 1429 | 100% |
Fonte: Autoras, 2023
Por meio da tabela 3, nota-se que a maior parte dos links são compartilhados por páginas de políticos de direita, que também são os emissores das informações contidas nesses links (39%). Isso demonstra uma possível necessidade de autoafirmação por meio desses políticos, e de plataformização das fontes de informação (ALVES DOS SANTOS JUNIOR, 2021). Indicando também que as URLS demonstram a utilização da esfera virtual como meio de propagação de conteúdo para a militância e de construção de uma agenda política (JÚNIOR et al, 2014). Os sites de notícia estando com apenas 3% de ocorrência demonstra novamente o que Alves dos Santos Júnior (2021) chama de desarranjo da visibilidade: novas vozes ganhando audiência, e uma baixa visibilidade advinda de veículos de imprensa tradicionais, causando um desarranjo de informação.
Tabela 3 – Cruzamento de quem utiliza as fontes (em%)
ORIGEM DOS LINKS | Ativista de direita | Página impessoal de ativismo de direita | Político de direita | Total Geral |
Blogueiros | 0% | 0% | 1% | 0% |
Conta de cidadãos ativistas de direita | 23% | 3% | 3% | 5% |
Contas impessoais de ativismo de direita | 4% | 5% | 2% | 4% |
Imprensa tradicional | 3% | 1% | 6% | 3% |
Instituições (Senado, STF, Polícia Militar, etc) | 0% | 0% | 0% | 0% |
Não disponível | 0% | 15% | 1% | 9% |
Não tem link | 12% | 60% | 44% | 50% |
Outro ou mais de um | 3% | 0% | 1% | 1% |
Partidos Políticos | 1% | 0% | 0% | 0% |
Políticos de direita | 38% | 12% | 39% | 24% |
Políticos de esquerda/centro | 0% | 0% | 2% | 1% |
Rede de imprensa alternativa (folhapolítica/GazetaBrasil) | 16% | 3% | 1% | 4% |
Total Geral | 100% | 100% | 100% | 100% |
Fonte: Autoras, 2023
Nos resultados, a correlação das variáveis obtidas na categorização demonstra um maior número de postagens advindas das páginas impessoais de ativismo de direita. Assim como, uma tendência das páginas impessoais de direita de retweetarem conteúdos vindos de outras fontes; e uma tendência dos políticos e ativistas de direita de compartilharem links provenientes do próprio Twitter. A maior parte das URLs foram compartilhadas por páginas de políticos de direita, e são provenientes também de páginas do Twitter de políticos de direita (indicando os políticos como uma fonte informativa nesses casos, delegando ao jornalismo apenas um papel secundário). Os políticos de direita analisados tenderam a criar seu próprio conteúdo e compartilhar URLs selecionadas durante o período eleitoral de 2022. Os ativistas de direita, apesar de menos ativos nesse caso, também tenderam a compartilhar informações advindas de políticos de direita durante este período eleitoral. Já as páginas impessoais de direita, penderam mais ao retweet, do que à publicação de URLs; sendo esses retweets provenientes também de políticos de direita ou de blogueiros.
Referências
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