Pesquisa de Nayane Pantoja aborda a comunicação digital do Ministério das Relações Exteriores. Analisa a atuação em diferentes governos, considerando comunicação pública, democracia digital e diplomacia digital. Contribui para o campo da comunicação pública em instituições governamentais.

“Mais uma vez uma ditadura preferiu esconder algo grave a expor tendo desgaste, mas que salvaria inúmeras vidas. A culpa é da China e liberdade seria a solução”

 (TWITTER. BOLSONARO, Eduardo, 2020)

O texto em epígrafe é um tweet do deputado federal Eduardo Bolsonaro no começo da pandemia do vírus Sars-Cov-19 em 2020. A declaração gerou repercussões no Brasil e na China, uma vez que a embaixada chinesa e os líderes políticos em Pequim afirmaram que esse tipo de atitude poderia colocar em perigo as relações comerciais e políticas entre os dois países. Ou seja, uma ação no ambiente digital pode gerar desgaste político e exigir atuação do Ministério das Relações Exteriores para manter a diplomacia.

As pesquisas relacionadas à comunicação ministerial e governamental dos últimos dez anos demostram que ocorreram mudanças impulsionadas pelo meio digital, principalmente na utilização estratégica de redes sociais por apresentarem serem espaços mais democráticos e descentralizados, fazem parte das novas estratégias adotadas pelos ministérios. Essa nova estratégia nasceu da percepção dos órgãos públicos de que era preciso uma comunicação mais direta, digital e de fácil acesso, que poderia se adaptar melhor às configurações sociais do século XXI, onde o simultâneo e o momentâneo é uma premissa. Assim, as organizações governamentais começaram a criar perfis e fanpages nos mais variados sites de redes sociais.  O Facebook merece um destaque por ser o mais acessado de 2011 a 2016, e o segundo até 2022 segundo a Hootsuite no Relatório Digital de Mídia (2020). Logo, o Ministério das Relações Exteriores também passou a adota-lo como parte de sua comunicação ministerial.  

O Ministério das Relações Exteriores é o órgão da administração pública federal responsável pelas relações do Brasil com os demais países e pela participação brasileira em organizações internacionais, assim como, executar a política externa definida pela Presidência da República conforme os princípios estabelecidos no art. 4º Constituição Federal. O ministério que é popularmente chamado de Itamaraty, possui sua fanpage no Facebook desde 2010 e realiza uma média de aproximadamente 60 postagens por mês, então, os posts serão o objeto de estudo.

A análise se concentra em três eixos teóricos. A (1) comunicação pública de Estado com as considerações sobre transparência e accountability, participação, prestação de serviços e construção de credibilidade e de imagem/personalismo (MIOLA & MARQUES, 2017). Já a (2) democracia digital demonstra que as redes sociais também podem ser um espaço de questões democráticas, ao mesmo tempo em que criam uma articulação entre sociedade e Estado (ALMADA et al, 2014). E por causa do caráter especial do ministério, a (3) diplomacia digital contribui entendendo que as atividades diplomáticas não são mais restritas a espaços tradicionais, podendo ser digitais (PERON, 2017).

O objetivo geral desta dissertação é realizar uma pesquisa comparativa, da perspectiva quanti-qualitativa, no Facebook do Ministério das Relações Exteriores, verificando mudanças, proximidades e diferenças na atuação ministerial feita nos governos Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro; uma vez que a questão central é saber como a comunicação digital da organização se altera quando levado em consideração a variável governo e as perspectivas dos conceitos de comunicação pública, democracia digital e diplomacia digital. Para realizar esse objetivo foram delimitados quatro objetivos específicos: (1) Indicar elementos teóricos que podem ser transformados em categorias analíticas para três eixos – Democracia digital; Comunicação pública; Diplomacia Digital- afim de contribuir metodologicamente para área de pesquisa; (2) Analisar qual é o eixo teórico mais presente no corpus, e consequentemente, nas postagens do Ministério de Relações Exteriores no Facebook; (3) Observar como a variável governo pode alterar frequência e tipo de postagens dentro do quadro analítico, e assim, determinar quais são as características de cada período governamental; e; (4) Verificar qual tipo de publicação do Ministério gera mais engajamento junto ao público. Primeiro em um aspecto geral e segundo, em um aspecto específico de cada ano e governo.

A ideia principal é propor um diálogo entre conceitos sobre comunicação pública, democracia digital e diplomacia digital, de modo a contemplar contextos mediados pelas tecnologias da comunicação em rede. É importante ressaltar o caráter comparativo, pouco explorado em pesquisas de comunicação pública e de democracia digital dentro da área acadêmica brasileira. A pesquisa em desenvolvimento pode contribuir para novas abordagens sobre a comunicação digital de instituições, para novos estudos interdisciplinares dentro da Comunicação, da Política e das Relações Internacionais.

A utilização de redes sociais por organizações públicas já é um fato no presente contexto da Era da Informação, entretanto, a pesquisa na área ainda possui espaços para crescer, como é o caso do Ministério das Relações Exteriores e da necessidade de adicionar a diplomacia digital nas considerações teóricas e estratégicas.


Referências

ALMADA, M. P., Rossetto, G. N. P., & Carreiro, R. (2014). Diferentes objetivos, diferentes apropriações? O uso do Facebook por iniciativas civis de democracia digital no Brasil. Verso e Reverso, 28(68), 145-154.

MIOLA, Edna. MARQUES, F. P. J. Por uma definição de comunicação pública: tipologias e experiências brasileiras. Compolítica, Porto Alegre, 2017.

PERON, Vivian. Mídias sociais e diplomacia pública no Brasil e EUA: um estudo de diplomacia digital através do twitter. Compolítica, Porto Alegre, 2017.