Quais partidos mais apelaram para o voto do tipo moral/valores na campanha eleitoral para deputados federais pelo Paraná de 2018?

Caio Vinicius e Nathália Gonçalves

O uso de apelo ao voto está presente em diversas campanhas eleitorais. É usado quando o candidato em disputa faz um apelo explícito ao eleitor no Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE). O programa é uma oportunidade para os candidatos construírem sua imagem e levarem a informação eleitoral até o público. Outro texto publicado neste site, referente à eleição para deputados federais pelo Paraná em 2018, apontou que, de 2.016 declarações no HGPE, somente 820 fizeram apelo ao voto, ou seja, realmente pediram verbalmente para que os eleitores votassem neles.

O apelo do tipo “moral/valores”, condizente com os candidatos que defendem determinados valores políticos e sociais, éticos e morais, foi o segundo mais falado, estando atrás apenas do apelo “não tipificado” (quando os candidatos não fazem um apelo específico). Dessas 820 declarações, apenas 63 apelaram para o tipo moral/valores, ou seja, 3,1%.

Segundo Cavalcante et al. (1990), em uma pesquisa em que foi verificada a relação entre a crença na justiça e os princípios morais, e também as possíveis relações entre os conceitos de justiça e moralidade com as atitudes políticas, as eleições presidenciais de 1989 estiveram fortemente marcadas pelo discurso moralista de alguns candidatos. Todavia, ao contrário dessa eleição presidencial, os programas eleitorais para candidatos a  deputados em 2018 tiveram o apelo “não tipificado” (quando os candidatos não fazem um apelo específico) como mais presente, resultando em 757 das declarações.

Manoel Barbosa de Rezende (2006) afirma que a ética e a moral são preocupações constantes de toda a sociedade. Dessa forma, comparando por partidos políticos, o MDB (Movimento Democrático Brasileiro) foi o que mais apelou para o tipo moral/valores, compondo 21 das 63 declarações. Dessas 21, destaca-se o candidato Caito Quintana, que fez esse apelo 15 vezes em todo o horário eleitoral de 2018.

A escolha desse apelo pelos candidatos dos partidos tem como propósito condizer com as convicções dos declarantes sobre assuntos ligados ao comportamento éticos na sociedade. Caito Quintana (MDB) por exemplo, tem suas declarações geralmente ligadas ao combate da corrupção e faz alusão que é necessário e indispensável que os eleitores se dediquem a votar nele, para que, como deputado federal, possa lutar no que ele diz ser a ética na política. O gráfico abaixo mostra a relação desse tipo de apelo com os partidos concorrentes.

Gráfico 1 – Uso do apelo “moral/valores” por partido

Fonte: CPOP (2020).

Analisando os dados, percebe-se que as narrações dos candidatos em tom de mudança em alguma área são comuns, como é o caso de Luísa Canziani (PTB), que expressou acreditar que a educação e a juventude podem mudar o estado. Com isso, compreende-se que, embora o apelo à moral e/ou valores seja o segundo mais abordado nos programas eleitorais, não necessariamente abordam a verdadeira crença dos candidatos em morais e valores.

Das 63 declarações que apelaram para os valores morais, distribuídas em 29 candidatos, 17 são homens e 12 são mulheres. O partido AVANTE foi o que mais teve presença feminina, totalizando 7 falas, e o PSB (Partido Socialista Brasileiro) foi o que mais teve presença masculina, totalizando 10 falas. Portanto, predomina a presença masculina no apelo ao voto do tipo moral/valores.

Segundo o estudo realizado por Figueiredo et al. (1997), os processos eleitorais são baseados em interesses de dois lados: os eleitores que querem ser representados de alguma maneira nos poderes governamentais e poderem ter seus interesses realizados, e os candidatos que para atingir seus objetivos precisam usar os ideais da sociedade para atingir o objetivo de ganhar a eleição.

Referências

REZENDE, Manoel Barbosa de. Ética e moral. Revista Paraense de Medicina, v. 20, n. 3, 2006.

CERVI, Emerson Urizzi. O uso do HGPE como recurso partidário em eleições proporcionais no Brasil: um instrumento de análise de conteúdo. Opinião Pública, 2011.

CAVALCANTE, Luciana B.; CAMINO, Santos; CAMINO, L.. Moralidade e comportamento eleitoral. Revista de Ciências Humanas, v. 6, n. 9, p. 43-53, 1990.

FIGUEIREDO, Marcus. ALDÉ, Alessandra. DIAS, Heloísa. JORGE, Vladimyr L. Estratégias de persuasão eleitoral: uma proposta metodológica para o estudo de propaganda eleitoral. Opinião Pública, p. 183-185, 1997.