Marina Silva (REDE) e Guilherme Boulos (PSOL) destacaram-se no uso do ataque, enquanto Fernando Haddad (PT), Henrique Meirelles (MDB) e Geraldo Alckmin (PSDB) apostaram mais na defesa

Fernanda Cavassana de Carvalho, Andressa Butture Kniess e Rafaela Sinderski

Tidos como eventos significativos nas campanhas eleitorais brasileiras, os debates transmitidos pela televisão tornaram-se fontes importantes de informação política nas disputas a cargos majoritários (VASCONCELLOS, 2011). Quando estudadas as estratégias utilizadas pelos candidatos nesses eventos de campanha, como ataques e defesas, a literatura destaca que é no discurso dos postulantes ligados à oposição que o ataque surge com mais frequência (VASCONCELLOS, 2013; BENOIT E KLYUKOUSKI, 2006). A fim de verificar essa questão em uma eleição peculiar como a de 2018 – que não apresentou candidato na posição clássica de incumbente, já que foi a primeira após o impeachment de Dilma Rousseff (PT), considerando, além disso, que o então presidente Michel Temer (MDB) não tentou a reeleição –, este comentário expõe alguns dados relacionados às estratégias utilizadas pelos presidenciáveis durante os debates televisionados ao longo desse período eleitoral. Eles foram coletados pelo CPOP em 2018 e considera-se a participação dos candidatos no debate, contabilizando o locutor e o destinatário de cada fala. Abaixo, na Tabela 1, são apresentadas, primeiramente, os resíduos padronizados das estratégias mais utilizadas pelos postulantes.

Tabela 1 – Resíduos Padronizados de estratégias discursivas por locutor

Fonte: CPOP (2018).

Resíduos padronizados acima de |1,96| representam relação significativa, acima do esperado quando positivos e abaixo do esperado quando negativos. Sobre os ataques, destacam-se Marina Silva (REDE) (2,3) e Guilherme Boulos (PSOL) (2,6) como aqueles que mais utilizaram, comparativamente, essa estratégia. Ambos os candidatos não chegaram a aparecer como favoritos na disputa presidencial em 2018. Também não possuíam vínculos com os governos anteriores, de Temer e Dilma – o que aproximaria o comportamento de ambos ao esperado na literatura. Ressalta-se ainda que Ciro Gomes (PDT) utilizou a estratégica do ataque menos do que se era esperado diante de suas participações (-2,1).

Em relação à estratégia de defesa, pode-se dividir os candidatos em dois grupos, os com RP positivos e os com RP negativos. O primeiro é compartilhado por Fernando Haddad (5,5), Henrique Meirelles (3,8) e Geraldo Alckmin (2,6). Os resíduos significativos e positivos para eles indicam a ocorrência da estratégia de defesa acima do esperado se não houvesse independência nessa relação (candidato locutor x estratégia). Esses dados nos permitem afirmar que, comparativamente, o candidato petista foi aquele que mais dedicou suas participações à defesa – da própria candidatura e de não-candidatos, como os ex-presidentes Dilma e Lula, do mesmo partido. Já o segundo grupo é formado por candidatos que obtiveram RP negativos, próximos a -2. Nele, estão Marina Silva, Álvaro Dias (PODE), Boulos e Ciro, que não utilizaram, comparativamente, suas participações para defender nem a própria candidatura, nem demais atores políticos. A Tabela 2 abaixo, por outro lado, traz os resíduos padrões por destinatário.

Tabela 2 – Resíduos padronizados de estratégias discursivas por destinatário

Fonte: CPOP (2018).

Com a relação significativa estatisticamente (p-value: 0,000), pode-se afirmar que a distribuição das estratégias não é aleatória ao destinatário. Assim, pode-se analisar as falas dos debates também considerando a forma como os postulantes escolhem se dirigir ao concorrente. Como é possível averiguar pelos resíduos padronizados, Fernando Haddad (4,0) e Henrique Meirelles (3,7) foram os dois candidatos que, comparativamente, receberam mais ataques. Destacam-se ainda Boulos (-2,4) e Dias (-2,2) como aqueles que menos foram atacados pelos demais candidatos e que receberam mais defesas dos oponentes, ambos com RP 2,1 enquanto destinatários de defesa.

É interessante notar que os candidatos comparativamente mais atacados, do PT e do MDB, são aqueles que representam os últimos governos. Isso reforça o que já se encontra na literatura (VASCONCELLOS, 2011; 2013) de que postulantes da situação são mais propensos a receber ataques, uma vez que atacar tende a ser estratégica comum dos desafiantes.

Nota: Este post é parte de uma pesquisa mais ampla, realizada pela equipe do grupo de pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP), que investiga as estratégias utilizadas pelos presidenciáveis durante os debates televisionados de 2018.

Referências

BENOIT, G. L.; KLYUKOVSKI, A. A Functional Analysis of 2004 Ukrainian Presidential Debates. Argumentation, v. 20, n. 2, p. 209-225, 2006.

VASCONCELLOS, F. Quem se Importa com os Debates Eleitorais na TV? In: CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM COMUNICAÇÃO E POLÍTICA, 4, 2011. Anais do IV Encontro da Compolítica. Rio de Janeiro: Compolítica, 2011.

VASCONCELLOS, F. Do confronto à conciliação: debates presidenciais na TV como eventos persuasivos de campanha. Tese (Doutorado em Ciência Política) – Centro de Ciências Sociais, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.

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