A pesquisa de Rafael Linhares discute o papel dos políticos outsiders nas eleições, focando em deputados federais eleitos em 2022 no Paraná, Minas Gerais, Goiás, Bahia e Amazonas. A análise de votos mostra que não há diferença estatisticamente significativa na média de votos entre outsiders, estabelecidos e migrantes, com destaque para a alta variância em migrantes, impulsionada por votações expressivas em Minas Gerais.
A ascensão de políticos outsiders têm despertado crescente interesse na comunidade acadêmica, refletindo um fenômeno global de relevância para a política contemporânea. A presença desses atores na esfera política tem sido observada em diversos contextos nacionais e internacionais, suscitando questionamentos e debates sobre suas características, impacto e papel no cenário político e eleitoral. No contexto brasileiro, a emergência de políticos outsiders têm sido recorrente, trazendo à tona a necessidade de análises aprofundadas e sistemáticas desse fenômeno.
Nesse sentido, o presente comentário propõe, em primeiro lugar, apresentar um breve apanhado sobre como a literatura aborda as diferentes formas de definição dos políticos outsiders. Em segundo lugar, destacar alguns elementos referentes a votação desses parlamentares tendo como foco os deputados federais eleitos em 2022 no Paraná, Minas Gerais, Goiás, Bahia e Amazonas, representando um estado de cada região do país.
Inicialmente é importante ressaltar que não existe um consenso claro sobre como classificar um ator político outsider e por vezes os trabalhos não buscam realizar com vigor tal definição, fazendo com que as mesmas características de determinado agente político sejam categorizadas de formas diferentes. Outra questão a ser colocada é o nível de análise dos cargos que estes políticos ocupam onde, em geral, os trabalhos dedicam-se muito mais à análise de cargos executivos do que aos cargos legislativos (Picussa, 2023).
Segundo Barr (2009), para categorizar o que seria um político outsider é preciso examinar três fatores chaves: i) apelos; ii) localização; iii) ligações com o eleitorado. Estes fatores-chave auxiliam na diferenciação dos limites entre políticos populistas, anti-establishment e outsiders (Barr, 2009).
A partir dessa linha de análise, Picussa (2023) realiza uma revisão bibliográfica de escopo sobre o tema com o objetivo de entender as nuances dessas diferentes formas de definição do político outsider. Os principais resultados da autora argumentam que a literatura define o que seriam políticos outsiders a partir de três linhas de análise: i) a discursiva, relacionada às retóricas que esses atores realizam durante suas atividades política; ii) a partidária, que visa definir o que é um outsider a partir de elementos relacionados aos partidos políticos e ao sistema partidário; iii) a profissional, que definem o político outsider a partir da sua partir da experiência política prévia.
Dessa forma, a partir da dimensão profissional, propomos uma classificação a partir da linha profissional (Padilha; Braga, 2023):
i) Outsiders: são aqueles deputados que não exerceram nenhum cargo eletivo antes de 2022.
ii) Estabelecidos: são os parlamentares que já exerceram especificamente o mandato de deputado federal em algum momento de sua carreira política.
iii) Migrantes: são os parlamentares que já tinham carreira política eletiva prévia, em outros níveis de representação, mas nunca haviam exercido o mandato de deputado federal.
Agora, iremos elencar alguns dados referentes às votações recebidas por parlamentares em cada uma dessas categorias de análise nos estados do Paraná, Minas Gerais, Goiás, Bahia e Amazonas. A tabela abaixo apresenta o teste de ANOVA, que visa indicar a existência ou não de diferença na variância das médias de votação entre as categorias.
TABELA 1 – TESTE DE ANOVA
Tipologia de carreira política | Observações | ||
Média de votos | Desvio Padrão | Número de deputados | |
Estabelecido | 112.125 | 40.753 | 103 |
Migrante | 168.118 | 270.972 | 27 |
Outsider | 115.264 | 74797 | 19 |
Fonte: TSE
Em primeiro lugar, o valor de F, coeficiente que mede se as diferenças de médias são estatisticamente significativas retornou um valor de 0.105 onde o limite é aceitável para o teste possuir significância estatística é de 0.05. Ou seja, isso nos indica que, entre os deputados federais estabelecidos, migrantes e outsiders dos do Paraná, Minas Gerais, Goiás, Bahia e Amazonas não existe diferença estatisticamente significativa entre suas médias de votos.
Outro destaque da análise é de que o valor do desvio padrão identificado nos parlamentares migrantes é superior à média de votos da mesma categoria, indicando que alguns parlamentares estão puxando a média da categoria para cima. Ao analisar mais atentamente os dados, identificamos que os parlamentares que causaram essa distorção são os deputados de Minas Gerais Nikolas Ferreira (PL) que obteve 1.492.047 votos e André Janones (AVANTE) com 238.967 votos.
REFERÊNCIAS:
BARR, Robert R. Populists, Outsiders and Anti-Establishment Politics. Party Politics, v. 15, n. 1, p. 29-48, 2009
PADILHA, Rafael Linhares; BRAGA, Sérgio Soares. OUTSIDERS, OUTLIERS E MÍDIAS DIGITAIS: O CASO DOS DEPUTADOS PARANAENSES. Revista do Legislativo Paranaense, Curitiba, n. 7, 2023.
PICUSSA, R. Outsiders: um conceito de difícil operacionalização na Ciência Política. Rev. Sociol. Polit., v. 31, e 023, 2023.
Deixe um comentário