Um segundo olhar para os ataques e defesas presentes nos embates televisivos

Valquiria Cesar Morgado

A campanha eleitoral para presidente de 2018 foi bastante atípica. Entre as questões que a tornaram singular, houve a redução de seu tempo em razão de norma legal, que restringiu a campanha a 45 dias antes da data do primeiro turno, e o atentado que sofreu o candidato Jair Bolsonaro (PSL) em 6 de setembro de 2018, durante ato de campanha em Juiz de Fora, Minas Gerais. O acontecimento fez com que o político cancelasse sua agenda para os meses que seguiram, ausentando-se dos debates e concentrando-se na comunicação via redes sociais.

Debates costumam movimentar as mídias e trazer ao palco os presidenciáveis em suas melhores ou piores performances. É por meio deles que o eleitor tem a oportunidade de conhecer as propostas dos candidatos para governar o país. Eles são dispositivos complementares de distribuição, pois geram informações únicas sobre os candidatos e ampliam o grau de conhecimento dos eleitores sobre o perfil e as propostas dos mesmos (VASCONCELLOS, 2014).

O desempenho dos postulantes durante o debate precisa ser satisfatório para que possam conquistar mais votos (VASCONCELLOS, 2010). Por isso, eles lançam mão de diferentes estratégias para conseguir a atenção dos eleitores. Contudo, ainda que os debates sejam importantes eventos de campanha, a ausência de Bolsonaro nos mesmos não foi empecilho para sua vitória no pleito de 2018.

Perante tal contexto, este comentário apresenta as estratégias discursivas mais utilizadas nos debates televisivos e presidenciais de 2018, mostrando alterações perceptíveis no decorrer das apresentações na TV. Os programas analisados são anteriores ao primeiro turno do pleito, que ocorreu no dia 7 de outubro. As codificações foram feitas pela equipe do CPOP, utilizando livro de códigos desenvolvido no grupo. Um primeiro comentário sobre o tema já foi publicado anteriormente, mostrando as estratégias mais adotadas pelos candidatos. Aqui, os dados são expostos por emissora de televisão, como pode-se ver na tabela abaixo.

Tabela 1 – Estratégia discursiva por emissora de televisão

Fonte: CPOP (2018).

É importante mencionar que, devido ao que aconteceu com Bolsonaro, os dados relacionados à participação do candidato do PSL foram deixados de fora, bem como os que dizem respeito ao Cabo Daciolo (AVANTE), que teve uma pequena atuação nos debates televisivos.


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Na análise dos dados, pode-se observar que a estratégia discursiva “ataque” ficou mais reduzida em torno do período do incidente com Jair Bolsonaro, que corresponde aos programas veiculados pela Rede TV (17/08/2018), TV Gazeta (09/09/2018) e TV Aparecida (20/09/2018). Mas a estratégia conta com um leve aumento nos programas transmitidos pelo SBT (26/09/2018), pela Record (30/09/2018) e pela Rede Globo (03/10/2018) – eventos que se aproximaram da data do primeiro turno, mostrando que os ataques se intensificam às vésperas da eleição.

A defesa apareceu três vezes menos do que o ataque. Quer dizer que nem todos os candidatos se preocuparam em responder as investidas dos concorrentes, utilizando seu tempo para a discussão de outras questões – ou aproveitando o momento para realizar um novo ataque. A estratégia que mais surgiu ao longo dos debates foi a neutra. Esse recurso colocava o postulante fora da rede de conflito, já que ele não atacava, não defendia nem utilizava um misto das duas estratégias, representada pela categoria “indefinida”, a que menos foi utilizada nos embates.

Percebe-se, então, que, de maneira geral, houve pouco uso de estratégias conflituosas nos debates do primeiro turno de 2018. Elas existiram, mas ficaram restritas a uma parte menor dos programas analisados, representando 17,1% dos segmentos de fala dos candidatos para a categoria “ataque”, 5,4% para a defesa e 2,9% para a combinação entre ambas.

Referências

VASCONCELLOS, F. Debates presidenciais na TV como dispositivos complementares de informação política no Brasil: Características e estratégias. In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIÊNCIA POLÍTICA, 9, 2014, Brasília. Anais do IX Encontro da Associação Brasileira de Ciência Política. Brasília: ABCP, 2014.

VASCONCELLOS, F. Implicações, padrões e tendências das regras dos debates eleitorais na televisão 1989-2010. In: CONGRESSO LATINO-AMERICANO DE OPINIÃO PÚBLICA DA WAPOR, 4, 2010, Belo Horizonte. Anais do IV Congresso Latino-americano de Opinião Pública da WAPOR. Belo Horizonte: WAPOR, 2010.