Entre Facebook, Twitter e WhatsApp, qual é a plataforma mais utilizada pelos brasileiros para consumir conteúdos políticos?

Rafaela M. Sinderski

No Brasil, 66% da população é composta por usuários ativos em redes sociais on-line (RSO)[1]. O uso dessas plataformas costuma estar ligado ao entretenimento, mas, segundo Baptista et al. (2019), elas têm assumido cada vez mais importância quando a discussão é sobre conversações, acesso e compartilhamento de informações políticas. As autoras argumentam que eleições presidenciais como a estadunidense em 2016, vencida por Donald Trump, e a brasileira em 2018, que terminou com a vitória de Jair Bolsonaro (sem partido), têm mostrado o potencial de mobilização política de aplicativos e sites como o WhatsApp, o Facebook e o Twitter, além, é claro, de terem despertado preocupação em relação às notícias falsas ou enganosas que circulam nesses ambientes. Diante disso, o potencial informativo das RSO e suas relações com o envolvimento político dos cidadãos têm sido tema cada vez mais frequente de pesquisas no campo da comunicação política (GIL DE ZÚÑIGA, JUNG E VALENZUELA, 2012; BOULIANNE, 2015, 2017 ).

Boulianne (2017) afirma que o uso das redes sociais on-line para a obtenção de informações políticas está ligado a contextos que não dispõem de uma imprensa livre. Porém, a falta de confiança em grandes organizações noticiosas também pode impulsionar a busca das pessoas por outras fontes informativas (BAPTISTA EL TAL, 2019). Dados ligados à opinião pública[2] mostram que apenas 21% dos brasileiros possuem plena confiança na imprensa, enquanto 48% confia um pouco e 30% não tem confiança alguma.

Considerando o cenário esboçado, este texto apresenta dados para o uso das RSO como fonte de informação política no Brasil, usando o Survey de 2019 do Projeto de Opinião Pública da América Latina (LAPOP) como material empírico. Para a exploração do tópico, foram consideradas as respostas obtidas para as seguintes perguntas: “Com que frequência o(a) sr./sra. vê informação política no Facebook?”; “Com que frequência o(a) sr./sra. vê informação política no Twitter?”; e “Com que frequência o(a) sr./sra. vê informação política no WhatsApp?”.

Dos que responderam à primeira questão, a maioria afirmou se informar sobre temas políticos no Facebook com alguma frequência (81,1%). Apenas 18,9% dos entrevistados disseram nunca usar o site de rede social como fonte, como mostra o gráfico 1, logo abaixo.

Gráfico 1 – Frequência com que os entrevistados usam o Facebook para se informar sobre política (%)

Fonte: LAPOP (2019).

Para o Twitter, a distribuição é mais equilibrada entre o consumo diário (28%), semanal (28%) e o não consumo (22,9%) da plataforma como fonte de notícias políticas, como é possível ver no gráfico 2. O uso do Facebook para se informar sobre política é mais alto (gráfico 1), mas o site também é mais popular entre os brasileiros. Dos entrevistados, 60,4% afirmaram ter conta nessa rede social, enquanto apenas 8,8% declararam estar no Twitter.

Gráfico 2 – Frequência com que os entrevistados usam o Twitter para se informar sobre política (%)

Fonte: LAPOP (2019).

O gráfico 3 traz os dados para o WhatsApp, que é, entre as três plataformas aqui analisadas, a mais utilizada – 75% dos entrevistados usa o aplicativo de mensagens. Mas essa não é a principal fonte de informações políticas dos brasileiros, já que 66,2% declararam usá-la com essa finalidade – contra os 81,1% do Facebook (gráfico 1) e os 77,1% do Twitter (gráfico 2).

Gráfico 3 – Frequência com que os entrevistados usam o WhatsApp para se informar sobre política (%)

Fonte: LAPOP (2019).

Ainda que Baptista et al. (2019, p. 31) apontem o WhatsApp como importante para a disseminação de conteúdos políticos, “uma vez que as pessoas demonstram com mais clareza e menos constrangimento suas posições e ideologias políticas, seja em mensagens privadas ou em grupos”, os dados mostram que não é esse o espaço mais escolhido pelos brasileiros para consumir tais informações. O Facebook foi o site mais citado com esse propósito. Isso, é claro, não significa que seja essa a plataforma preferida para expressar pontos de vista sobre política, já que não era disso que tratavam as perguntas do LAPOP.

Este texto se limitou a apresentar números que ajudam a entender como se dá o uso das redes sociais on-line para consumir conteúdos políticos no Brasil. Outros estudos podem verificar como esse consumo se relaciona com outras variáveis, como a confiança na imprensa, por exemplo.


[1] Dados do relatório Digital in 2020: Global Digital Overview, do We Are Social e Hootsuite. Disponível em: <https://wearesocial.com/digital-2020>. Acesso em 28 ago. 2020.

[2] Pesquisa do Datafolha publicada em julho de 2019. Disponível em: <http://datafolha.folha.uol.com.br/opiniaopublica/2019/07/1988221-forcas-armadas-tem-maior-grau-de-confianca-entre-instituicoes.shtml>. Acesso em 28 ago. 2020.

Referências:

BAPTISTA, E. A. et al. A circulação da (des)informação política no WhatsApp e no Facebook. Lumina, v. 13, n. 3, p. 29-46, set./dez. 2019.

BOULIANNE. S. Social media use and participation: a metaanalysis of current research. Information, Communication & Society, v. 18, n. 15. p. 524-538, 2015.

BOULIANNE, S. Revolution in the making? Social media effects across the globe. Information, Communication & Society, p. 1-16, 2017.

GIL DE ZÚÑIGA, H. G.; JUNG, N.; VALENZUELA, S. Social Media Use for News and Individuals’ Social Capital, Civic Engagement and Political. Participation Journal of Computer-Mediated Communication, v. 17, p. 319-336, 2012.